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Crítica: Invisibilidade
Um grito silencioso por visibilidade e respeito: o poder arrebatador de Invisibilidade

Invisibilidade: uma história que clama por empatia e reconhecimento
Em "Invisibilidade", Tulio de Melo nos convida a encarar uma verdade que muitos preferem ignorar: a luta diária das mulheres travestis no Brasil contra o apagamento social. Baseado em um caso real, o filme é uma obra política, urgente e arrebatadora, que utiliza a ausência de diálogos para criar uma narrativa visual poderosa. Em vez de palavras, "Invisibilidade" fala com luzes e sombras, desenhando com delicadeza a vida de uma mulher travesti cuja jornada reflete a realidade de muitas que vivem silenciadas. É impossível não se emocionar ao perceber como o filme dá voz ao silêncio, explorando cada frame com sensibilidade e um olhar crítico sobre o abandono social e a invisibilidade das políticas públicas que deveriam protegê-las.
Gravado no Rio de Janeiro, o filme brilha ao transformar o cotidiano de Mychelly em um retrato universal. Tulio de Melo faz da cidade um cenário eloquente, revelando uma história contada não apenas pelas imagens, mas pelo que elas evocam. O uso magistral de luz e sombras não só enriquece a fotografia como reflete simbolicamente a luta constante entre presença e apagamento na vida dessas mulheres. É tocante perceber como, mesmo sem uma única fala, a obra ecoa alto e claro: as travestis e mulheres trans merecem visibilidade, respeito e proteção. O silêncio de Mychelly é, na verdade, um grito por todas as Mychellys do Brasil.
Premiado no Festival Cine Toca nas categorias de Melhor filme e Melhor direção, Invisibilidade transcende a condição de apenas um filme e se torna uma denúncia, uma reflexão e um ato de resistência. O filme desafia o espectador a questionar seu papel na perpetuação das desigualdades e preconceitos que tantas vezes tornam essas histórias invisíveis. É um convite ou melhor, um chamado para enxergar, ouvir e reconhecer essas vidas. Com sua narrativa sensível e envolvente, o curta ilumina não apenas a realidade das mulheres travestis, mas também a nossa responsabilidade coletiva. Uma obra que, sem dúvida, deixa marcas profundas no coração e na consciência de quem assiste.
Por: Carolinne Macedo (crítica de cinema do Sinopse e do jornal Primeira Página)
