Crítica: O Rio e a Cobra Grande

Entre o mito e a resistência: um mergulho nas memórias e tradições ribeirinhas de Porto Nacional

A imagem mostra um homem sorridente, usando um casaco vermelho, camiseta preta e jeans, cantando em um microfone enquanto estende a mão em direção a um grande adereço representando a cabeça de uma cobra. A cobra tem a boca aberta, com dentes pontiagudos e detalhes em vermelho e verde. Ao fundo, há pessoas carregando fantasias e elementos coloridos que remetem a um desfile ou celebração cultural.

Cultura viva: a energia contagiante do Carnaval de Porto Nacional retratada em O Rio e a Cobra Grande, conectando tradição, arte e resistência

O curta-documentário “O Rio e a Cobra Grande”, dirigido por Everton dos Andes, é um verdadeiro presente ao imaginário popular de Porto Nacional e do Tocantins. Com 12 minutos de duração, a obra mergulha fundo na mais famosa lenda local — a Buiúna, a serpente que desperta no Carnaval para encher de vida e alegria as ruas da cidade. O filme é uma ode à tradição, resgatando memórias preciosas da comunidade ribeirinha, fortemente impactada pela construção do Lago da Usina de Lajeado. Entre relatos de pioneiros como o Padre Jones, o poeta Célio Pedreira e o escritor Edivaldo Rodrigues, e imagens vibrantes do Carnaval, somos levados por um rio de emoções, onde cada frame exala cultura e resistência.

A direção de fotografia assinada por Caio Brettas se destaca ao capturar, com maestria, tanto a grandiosidade dos Bonecos Gigantes quanto os detalhes sutis da Caçada da Buiúna. A inserção de músicas entre as entrevistas adiciona um ritmo pulsante à narrativa, reforçando a conexão entre a arte e a vivência local. O roteiro, assinado por Everton dos Andes e João Luiz Neiva Brito, vai além do mito: ele debate a preservação do patrimônio imaterial ameaçado, explorando como a classe artística de Porto Nacional transforma suas criações em formas de resistência. É uma celebração da cultura popular, mas também uma denúncia da fragilidade de nossa memória coletiva diante das transformações impostas pelo progresso.

“O Rio e a Cobra Grande” é mais do que um registro; é um clamor para a preservação da nossa cultura. Com emocionantes relatos, causos, poesia, música e literatura, o roteiro dessa narrativa que revela o caráter de um povo e sua relação com o Rio, a religiosidade e a Cultura Ribeirinha. O curta-documentário perpetua a história da Buiúna para as novas gerações e convida o espectador a refletir sobre sua identidade e conexão com o passado. Não é apenas um filme sobre uma lenda, mas sobre um povo, seu rio e sua luta para manter vivas suas tradições. Assistir a esse documentário é ser arrebatado por uma força que nos lembra o quanto é urgente valorizar, resgatar e proteger o que nos define.

Por: Carolinne Macedo (crítica de cinema do Sinopse e do jornal Primeira Página)

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