Crítica: Palasito

O enigma das serras de Uiramutã

Entre o desconhecido e a ganância, um suspense cósmico no coração da amazônia

"Palasito" mistura ficção científica, suspense e terror em um cenário bélissimo. Sob a direção de Alex Pizano, a produção roraimense transporta o espectador para o extremo norte de Roraima, em Uiramutã, região marcada pela tríplice fronteira com Venezuela e Guiana, e lar da maior população indígena do estado. O curta é um convite a encarar o desconhecido — tanto o de origem extraterrestre quanto o de nossa própria natureza. A trama começa com a queda de um misterioso meteorito, um raro corpo celeste de interior cristalizado que, no mundo científico, pode valer milhões de dólares. Mas a verdadeira riqueza do filme está em sua capacidade de explorar as consequências da ganância humana diante do inexplicável. 

A pedra, além de seu valor material, exerce uma influência perturbadora nos personagens, desencadeando conflitos profundos entre um grupo de pesquisadores que se veem em um verdadeiro jogo de interesses. Inspirado por mestres do terror como H.P. Lovecraft e pelo clássico "O Enigma do Outro Mundo", de John Carpenter, Alex Pizano entrega uma obra envolvente e, com uma fotografia deslumbrante, captura as serras de Uiramutã em sua grandiosidade quase mística, contrastando a vastidão natural com o confinamento psicológico dos personagens. Cada plano parece pensado para amplificar a atmosfera inquietante, ao mesmo tempo que reverencia as paisagens únicas da região.

O ponto alto do filme acontece com a presença de uma mulher indígena que, falando na língua mucuxi, traz à trama um elo espiritual e cultural. Em uma visão quase profética, ela alerta sobre a queda da "pedra de fogo" que traria desgraça e morte ao seu povo. Essa figura não apenas adiciona um elemento simbólico ao roteiro, mas também reforça a importância da representatividade das populações indígenas, cuja história e sabedoria ancestral muitas vezes ficam à margem do cinema nacional. Nessa cena você sente a tensão no ar, como se o próprio meteorito pudesse saltar da tela, nos fazendo refletir sobre a pequenez humana diante do cosmos.

"Palasito" nos obriga a olhar para a ganância, o ego e a desconexão com o espiritual — verdades incômodas, mas necessárias. O filme é uma conquista não apenas para o cinema de Roraima, mas para o audiovisual brasileiro como um todo. Alex Pizano, um dos pioneiros da ficção no estado, prova que as narrativas regionais podem — e devem — alcançar relevância nacional e internacional. Mais do que um curta-metragem, é uma declaração de amor ao potencial criativo das fronteiras do Brasil.

Por: Carolinne Macedo (crítica de cinema do Sinopse e do jornal Primeira Página)