Crítica: RITXOKO

Ritxoko: Bonecas de barro, histórias de resistência e a força ancestral do povo Iny

A imagem é a capa de um material chamado "Ritxoko", com o título em letras grandes e estilizadas no topo. No centro, há uma ilustração de uma escultura de cerâmica indígena, mostrando uma figura humana segurando uma onça com padrões circulares em seu corpo. A figura humana tem pinturas corporais geométricas nos braços e veste um cocar ou capacete. A tonalidade predominante da imagem é avermelhada, com um fundo claro e detalhes em preto. No canto inferior esquerdo, aparecem os logos "Identidades Brasilis" e "Sesc".

O curta foi aclamado no Festival Cine Toca, levando os prêmios de Melhor Documentário e Prêmio da Crítica

“Ritxoko” é muito mais do que um curta-metragem documental; é um grito ancestral que ecoa da Ilha do Bananal para o mundo. Produzido pelas talentosas indígenas Nandyala Waritirre, do povo Iny, e Millena Kanela, do povo Kanela do Araguaia, o filme nos transporta para o coração da Aldeia Santa Isabel do Morro (Hawaló), onde as bonecas Ritxoko, feitas de cerâmica, ganham vida. Essas peças, que nasceram como brinquedos para as crianças e instrumentos de transmissão de saberes, transcenderam gerações para se tornarem símbolos de resistência, identidade e memória do povo Iny (Karajá). Não à toa, o curta foi aclamado no Festival Cine Toca, levando os prêmios de Melhor Documentário e Prêmio da Crítica, reafirmando sua relevância artística e cultural.

O documentário vai além de um registro técnico: ele nos imerge em uma cosmovisão rica, onde cada figura moldada carrega histórias, tradições e espiritualidade. As narrativas de Disyrá Karajá e Dibexia Karajá nos mostram como essas bonecas ultrapassaram o papel de objetos do cotidiano para se tornarem Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira, reconhecidas pelo IPHAN em 2012. A fotografia, sensível e cuidadosa, captura cada detalhe do processo artesanal, do toque das mãos no barro à vida que parece emergir de cada peça finalizada. É impossível não se emocionar com a força das mulheres ceramistas que, ao moldarem suas bonecas, também moldam a história de um povo. A montagem dá um ritmo fluido, que nos conduz por essa jornada sem pressa, mas com intensidade, como se o filme estivesse nos convidando a aprender e sentir ao mesmo tempo.

Ritxoko é um convite para enxergar o que muitas vezes se ignora: é da profundidade das culturas originárias que formam a essência do Tocantins e do Brasil. Não é apenas uma aula sobre ancestralidade, mas também um manifesto de resistência e pertencimento. Com uma narrativa visual que beira o poético, o filme nos força a encarar verdades incômodas sobre a invisibilidade dessas culturas e o papel do cinema em resgatá-las. Ao final, somos transformados. O peso histórico e cultural das bonecas Ritxoko nos lembra que a arte não é só memória; é também presente e futuro. “Ritxoko” não é só um filme, mas um legado – e cada moldagem dessas mulheres é uma reafirmação de que é, sim, urgente e necessário contarmos nossas próprias histórias. O cinema é o meio, mas o espírito que o sustenta é Iny, e sua mensagem é universal.

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