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Crítica: Ser Velho
Um olhar sensível sobre a velhice como potência, memória e resistência

Entre histórias, afetos e sonhos, um documentário que celebra a vida
O documentário “Ser Velho” (2021), dirigido por Renata Patrícia da Silva e Gustavo Henrique de Lima, é como um singelo cafuné de vó — daqueles que te fazem crescer. Com uma sensibilidade única, a obra dá voz aos idosos da nossa cidade de Palmas que, em seus relatos, nos guiam por temas universais como amor, sexualidade, arte, felicidade e projetos de vida. Por trás de cada fala, vemos transbordar uma verdade incômoda: nossa sociedade, com sua obsessão pela juventude, insiste em relegar a velhice ao esquecimento. Porém, “Ser Velho” resgata essa fase da vida como potência, repleta de histórias, sonhos e resistência. O filme não é apenas um retrato; é um chamado para enxergar além do óbvio e celebrar as camadas que a experiência imprime na pele e na alma.
O curta documentário impressiona pelo cuidado estético e pela sensibilidade narrativa. A direção de Renata e Gustavo constrói uma atmosfera intimista, onde a câmera, muitas vezes estática, age como confidente das histórias contadas. A montagem mantém o equilíbrio perfeito entre emoção e reflexão, sem apelar para sentimentalismos fáceis. A trilha sonora, delicada e acolhedora, reforça a força das palavras, enquanto a fotografia explora os rostos, os gestos e até os silêncios dos entrevistados com uma ternura quase palpável. Palmas, com seus contrastes urbanos, surge como pano de fundo, mas é nas memórias e nas vivências que o filme encontra sua verdadeira paisagem.
O que mais emociona em “Ser Velho” é a honestidade dos depoimentos. O amor ainda pulsa, a sexualidade se mantém à flor da pele, e a arte, como em qualquer idade, continua a salvar. É impossível não se conectar com as histórias de quem viveu e ainda sonha, de quem perdeu e ainda acredita. Este não é um filme sobre o fim da vida, mas sobre a continuidade e a transformação dela. Em tempos tão acelerados, “Ser Velho” nos obriga a pausar, olhar para o outro e reconhecer que envelhecer é um privilégio que merece ser celebrado. Uma obra essencial, necessária e profundamente humana.
Por: Carolinne Macedo (crítica de cinema do Sinopse e do jornal Primeira Página)
