Crítica: Solitude

Um mergulho poético no autoconhecimento e na essência do cinema amapaense

Um mergulho sensível e transformador na jornada do autoconhecimento

Com uma sensibilidade arrebatadora, “Solitude”, dirigido pela talentosa ilustradora Tami Martins, transcende os 15 minutos de projeção e nos leva a uma jornada de autoconhecimento tão íntima quanto universal. Primeira animação produzida no Amapá, o curta narra a história de Sol, uma jovem que, após romper um relacionamento abusivo, tenta reconstruir sua vida enquanto sua Sombra — literal e metaforicamente — foge para o deserto do Atacama. Entre cenários que vão do acolhedor Igarapé das Mulheres, em Macapá, à vastidão do deserto chileno, o filme nos desafia a encarar verdades incômodas sobre nossas próprias relações com o mundo e, sobretudo, conosco.

A escolha do título não poderia ser mais certeira: “Solitude” não fala de solidão, mas de um estado de espírito onde aprendemos a valorizar nossa própria companhia. Essa dualidade entre Sol e sua Sombra é traduzida de forma magistral pela narrativa e pela técnica impecável de Tami Martins, que combina uma animação artesanal, com traços marcantes e cores que transitam entre a melancolia e a esperança, a uma trilha sonora comovente — destaque para “Um Corpo no Mundo”, de Luedji Luna, que dá o tom perfeito de introspecção e força. O simbolismo dessa separação entre Sol e sua Sombra reflete a luta interna de quem busca se reconstruir após um trauma, enquanto celebra a independência como ato de cura.

“Solitude” é um manifesto. O reconhecimento nacional e internacional da obra evidencia a força do cinema amapaense e sua relevância em narrar histórias genuinamente brasileiras, conectadas à nossa cultura e identidade. Ao mesmo tempo que emociona, o curta nos faz refletir: quantas vezes fugimos de nós mesmos na busca por respostas? Com uma direção ousada, uma trama pungente e uma animação que respira a Amazônia, “Solitude” é a prova de que o cinema nortista tem potência de sobra para encantar e provocar o mundo. Uma experiência transformadora que merece ser vista, vivida e levada para além das telas.  

Por: Carolinne Macedo (crítica de cinema do Sinopse e do jornal Primeira Página)