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Crítica: Super Panc Me
Uma revolução em cada folha verde

Um retrato sensível e revolucionário da periferia macapaense através do cinema e da natureza
“Super PANC Me” é um mergulho inusitado, saboroso e profundamente tocante nas periferias de Macapá. Dirigido por Marcos Vinícius, o filme é uma ode às raízes culturais, à resistência e à criatividade do cinema amapaense. Inspirado pelo conceito de "arte imitando a vida", o filme nos faz refletir sobre as desigualdades, as belezas escondidas e as possibilidades revolucionárias que habitam o cotidiano de quem luta para sobreviver, sem nunca abandonar seus sonhos. O título é uma alusão inteligente ao documentário americano Super Size Me: a dieta do palhaço e brinca com a ideia de dieta extrema, mas aqui o "palhaço" é substituído pela natureza. A comparação não poderia ser mais apropriada: enquanto o filme americano critica os excessos do fast food, “Super PANC Me” enaltece a simplicidade e a força do que está ao nosso alcance, mas que muitas vezes ignoramos.
A protagonista, Gabriela, vivida pela extraordinária Hari Silva, é uma blogueirinha da periferia que, entre entregas de açaí e bacaba em sua bicicleta e enfrenta a dura realidade de contas atrasadas e o fantasma do aluguel. Hari dá à personagem uma profundidade emocional que nos conecta a ela instantaneamente. Sua atuação vai além de um simples retrato de uma jovem batalhadora — ela humaniza e ilumina uma realidade muitas vezes invisibilizada. O uso das PANCs como tema central é um golpe de genialidade. Ao tratá-las como uma metáfora para o invisível que sustenta nossa sociedade, o filme subverte a ideia do "mato" como algo descartável e o coloca como símbolo de resistência e sustentabilidade. Há algo de revolucionário no ato de Gabriela explorar essa biodiversidade ignorada — é um convite à reflexão sobre como consumimos, vivemos e valorizamos aquilo que está ao nosso redor.
Mas o filme vai além. “Super PANC Me” é também uma metalinguagem deliciosa, com Gabriela se envolvendo na produção de um documentário caseiro sobre as PANCs. É o cinema falando de si mesmo, da luta para existir e sobreviver na Amazônia, com poucos recursos, mas muito talento. A produção artesanal, que levou três anos para ser concluída, é um marco para o cinema do Amapá, reafirmando que grandes histórias podem e devem vir de todos os cantos do Brasil. Com um elenco talentoso e uma direção sensível, o filme se torna uma experiência transformadora, especialmente para quem sonha em fazer cinema na Amazônia. É um lembrete de que, apesar das adversidades, é possível contar histórias que emocionam, incomodam e nos fazem repensar nossa relação com o mundo.
O roteiro, que mistura leveza e profundidade, também aborda, com sutileza, o tema do abuso enfrentado por mulheres em situações de vulnerabilidade. É um lembrete discreto, mas potente, da necessidade de discutirmos questões sociais que afetam tantas mulheres como Gabriela. “Super PANC Me” é um chamado à ação, uma celebração da resistência e uma prova de que, no cinema, assim como na vida, os pequenos detalhes podem mudar tudo. Marcos Vinícius constrói um universo absolutamente macapaense, com locações que exaltam tanto a beleza quanto as mazelas da cidade e transforma a experiência do filme em uma oportunidade de enxergar o Amapá como um polo de criatividade e qualidade audiovisual, provando que o cinema brasileiro é muito mais do que somente o que é produzido nos grandes centros.
Por: Carolinne Macedo (crítica de cinema do Sinopse e do jornal Primeira Página)
