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Do TikTok para o cinema: jovens da Região Norte transformam o celular em ferramenta de criação audiovisual
Com poucos recursos e muita criatividade, criadores de conteúdo usam as redes para contar histórias, experimentar linguagens e ocupar espaços que antes pareciam distantes

O tIKtOK tem sido cada vez mais explorada por jovens como espaço de criação audiovisual, com vídeos que combinam linguagem cinematográfica e narrativas autorais.
Gravar um vídeo com o celular, editar no próprio aplicativo e postar para milhares de pessoas em questão de minutos. Para uma nova geração de jovens da Região Norte, essa rotina vai além do entretenimento. O TikTok virou um espaço para experimentar, contar histórias, brincar com enquadramentos, iluminação e até roteiros – tudo isso em poucos segundos de vídeo. A lógica é simples: se é audiovisual, se tem narrativa, se provoca algo em quem assiste… então é cinema também.
Aos 19 anos, a manauara Luiza Rocha já acumula mais de 100 mil seguidores no TikTok. Ela começou fazendo vídeos de humor, mas logo passou a pensar suas produções como curtas-metragens. “Eu cresci vendo filmes e novelas, sempre gostei de criar. Um dia pensei: por que não usar o TikTok pra contar histórias como nos filmes?”, conta. Nos vídeos dela, as cenas são divididas em atos, os personagens têm arcos definidos e os planos são pensados com atenção.
Esse movimento não é isolado. Vários jovens do Norte do Brasil têm usado a rede como uma espécie de laboratório audiovisual. O celular virou câmera principal. A casa, o bairro ou a cidade viraram cenário. A família e os amigos, elenco. O acesso a cursos formais de cinema ainda é limitado na maioria dos estados da região, mas o que falta em estrutura é compensado com muita disposição para aprender por conta própria e dividir o que se aprende com outros.
O paraense Alex Gomes, de 23 anos, mora em Santarém e produz vídeos de ficção com clima de suspense, inspirados em lendas da floresta. Ele edita tudo no próprio celular, com trilha sonora, efeitos e uma montagem que lembra os filmes que assistia na infância. “A gente faz do nosso jeito, com o que tem. Eu gosto de dizer que é cinema caseiro, mas com alma”, diz, rindo.
A curadoria de festivais e mostras de cinema começa a se abrir para essas novas formas de contar histórias. Em 2023, por exemplo, o Festival Olhar do Norte exibiu uma sessão especial só com produções criadas originalmente para redes sociais. Algumas, inclusive, feitas inteiramente no TikTok.
Para muitos desses jovens, não é só sobre viralizar. É sobre fazer parte de algo maior. Criar, experimentar, ser visto. E quem disse que pra fazer cinema é preciso uma superprodução? O que está em jogo é a linguagem, a intenção e o olhar. O resto se aprende no processo – e com o celular na mão.
